(Henri-Cartier Bresson. A Escola de Belas-Artes. Paris, maio de 1968. Magnum Photos. Disponível em: http://bit.ly/5hyb23. Acesso em: 15 de novembro de 2009)
A fotografia tirada pelo francês Henri-Cartier Bresson apresenta, a princípio, três elementos de análise: os materiais no alto, os cartazes no meio e duas pessoas na parte inferior da imagem.
Os materiais são, pelo que conseguimos identificar, telas de pintura e rolos de papel. São esses materiais que, formalmente, tornam a imagem inteligível. Eles estão guardados em uma sala da Faculdade de Belas-Artes de Paris. A faculdade foi ocupada pelos estudantes em 14 de maio de 1968 e os traços dessa ocupação estão nos outros dois elementos aos quais nos referimos. O lugar estava sendo usado para a confecção de cartazes a partir da técnica de serigrafia e seriam usados em manifestações nas ruas de Paris.
Consegue-se reparar que os cartazes têm enfoques diversos, seja atacando o presidente, a máquina burocrática estatal ou uma organização operária. Nesse caso, notamos no último cartaz em que está escrito "Combien?" ("Quanto?"), ao mesmo tempo em que mostra uma representação da CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores) recebendo dinheiro de uma mão acima do órgão. A CGT não era bem quista pelos estudantes, porque, mantendo relações com o Partido Comunista, participava do "estabelecido", ou seja, do jogo da política tradicional. Além disso, os trabalhadores eram vistos por determinada parte dos estudantes como "vendidos", ao invés de revolucionários, pois acreditava-se que seu único desejo era o aumento dos salários e não a transformação da sociedade de modo profundo.
Os dois estudantes deitados, dormindo na sala, são a clara expressão da ocupação da área, pois estão em organicidade com o material de protesto. Não se trata de um descanso permanente, mas o oposto, apenas uma pausa entre atividades contestatórias, dentro ou fora daquele ambiente.
(Guy Le Querrec. Sem título. Paris, 27 de maio de 1968. Magnum Photos. Disponível em: http://bit.ly/4p6zY3. Acesso em: 15 de novembro de 2009)
A fotografia, tirada no dia 27 de maio de 1968, em virtude de um encontro promovido no estádio Charlety pela UNEF (União Nacional dos Estudantes da França), traz, em destaque duas pessoas deitadas no gramado. A expressão no rosto da moça é de cansaço, possivelmente explicado pela agitação que eclodiu naquele mês na França.
O fotógrafo Guy Le Querrec, ao registrá-los deitados, flagrou, bem como Henri-Cartier Bresson na fotografia A Escola de Belas-Artes (2.3.1 – A Escola de Belas-Artes, Henri-Cartier Bresson), um momento de pausa da agitação. Um breve momento, certamente, após o qual novos eventos tomarão lugar.
Neste breve momento, o jovem à frente, deitado perpendicularmente no dorso da moça, lê um jornal em que uma das manchetes principais remete às agitações de maio de 1968 em Paris. Podemos refletir acerca de dois aspectos a partir dessa percepção. Em primeiro lugar, abre-se uma dimensão para que possamos compreender o valor da informação e do conhecimento para os jovens que ali se reuniam em um encontro de protesto. As manifestações de maio de 1968 em Paris foram intelectualizadas. Em segundo lugar, a imprensa, desde o século XIX, ocupa lugar de destaque nos debates políticos e intelectuais: ela abre espaço para as lutas políticas e ideológicas e transcende a função de apenas informar.
Na capa do jornal lido pelo jovem deitado no gramado está escrito: “A revolução de maio”. Há muitos debates hoje em dia em torno dessa denominação, se os acontecimentos daquele ano de 1968, sobretudo na França, foram ou não uma revolução, buscando comparar demandas e vitórias dos movimentos que se engajaram naquelas manifestações (principalmente estudantes, trabalhadores e artistas).
A fotografia de Bruno Barbey traz uma forte indicação de movimento, sobretudo pelo policial em primeiro plano, cujas pernas e o cassetete sofrem uma deformação decorrente de sua ação.
Tirada no 6º distrito de Paris, no Bairro Latino, em 6 de maio de 1968, a imagem é a da contenção de uma manifestação de estudantes e professores pela tropa de elite. Eles se posicionavam contra a invasão policial à Sorbonne, maior universidade francesa. Os tumultos se estenderam pelas ruas de Paris, após a multidão ser dispersa e começar a fazer barricadas. A polícia respondeu com bombas de gás e alguns manifestantes foram presos.
A violência do evento está traduzida na figura de uma moça caída e estendida na rua, tentando proteger-se com a própria mão. Um pouco mais atrás, na porta de um estabelecimento comercial, algumas pessoas observam a movimentação. Com roupas elegantes, trajando terno e gravata, parecem conversar entre si com certa tranquilidade, o que denota que a vida em Paris naquele começo de mês de maio de 1968 não era só agitações opondo posicionamentos antagônicos.
O retrato traz em primeiro plano uma senhora, protegendo-se em baixo de seu guarda-chuva. Ao fundo, vemos outra senhora, esta mais jovem, provavelmente. Ambas vestem-se com elegância e denotam uma certa camada social que apoiava o general De Gaulle: uma classe média conservadora que, ao fim e ao cabo, constituía a maior parte da população francesa.
Um texto interessante sobre o assunto é o artigo “Os velhos em 1968” , de Lincoln Secco. Apesar de tratar mais dos intelectuais do que do povo, em si, o texto é elucidativo na comparação entre a juventude rebelde e as pessoas mais velhas naquele momento de contestação.
Nessa fotografia tirada por Martine Franck, na Sorbonne, está acontecendo uma discussão entre artistas e estudantes. No centro, o pintor chileno Roberto Matta, que tinha tendências estéticas surrealistas. Matta, nas décadas de 1960 e 1970, envolveu-se na luta de movimentos sociais, atitude que não condizia com a política chilena a partir de 1973, sob a ditadura de Augusto Pinochet. O ditador chegou a mandar cobrir com várias camadas de tinta um mural do artista, que celebrava a vitória de Salvador Allende, presidente deposto pelo golpe militar de 1973. Destaca-se, desse modo, na fotografia, não somente o envolvimento de estudantes e intelectuais franceses no Maio de 68, mas um relevante intercâmbio ideológico e cultural. A sociabilidade intelectual durante os movimentos de maio de 1968 foi intensa e envolveu artistas e estudiosos de diversos países.
Bibliografia
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